terça-feira, 20 de dezembro de 2016

História da sua vida

” - Não tenho certeza se estou pronta para ter filhos. Perguntei a uma amiga minha que é mãe: Imagine que eu resolva ter filhos. E se eles crescerem e me culparem por tudo o que há de errado na vida deles? Ela riu e disse: O que você quer dizer com “se”?” (Ted Chiang)

Cinco dias depois e nada fica claro, só a sensação de que lidamos com algo muito maior do que entendemos o que me fez pensar na sua história: não acontecer desviou o nosso rumo em alguns anos, mas o que se veria hoje seria aproximadamente o mesmo. 

Vamos supor que o destino te fizesse mais forte e aqueles mínimos três ou quatro meses virassem anos: algumas diferenças seriam deixadas para depois, mas assim que sua mãe notasse (na realidade ela descobriu tudo bem antes) que ao invés de solução você seria oposição, ela tentaria transformar sua existência em algo detestável... sorte que eu estaria atento à essa possibilidade (chamaria de “efeito bailarina”, pois acontecera algo semelhante antes)... sorte que aquele momento de maus tratos, que todos veriam, que não era birra, onde eu chegaria logo a seguir, pegaria você no colo, levaria ao hospital e o apêndice extirpado de forma rápida deixaria pequenas cicatrizes que hoje você procuraria, mas nem imaginaria aonde estariam... sorte que a juíza acreditaria na história (muitas testemunhas)... sorte que você, pequenina ainda, contaria tudo como “gente grande”... sorte que iríamos embora, mesmo que para perto, e após um tempo, mais adiante, para bem longe depois.

Sei que no dia do ciclone você pensou nisso, mas hoje contei outras coisas que você não saberia (ou preferiria esquecer). Quanto frio passaríamos, não é mesmo? E os detestáveis “apagões” que te deixariam “longe” dos seus inseparáveis amigos? Falando dos amigos, o quanto sua bondade e clareza de raciocínio evitariam que eles sofressem, quando me contasse sobre as coisas que acendiam seus alertas? Faríamos uma boa dupla: melhores amigos para sempre, ou BFF como você preferiria dizer. 

Só que chegaria o tal momento do “adeus” e creio que ele estaria muito próximo hoje; nesse finalzinho você riria muito das dificuldades que eu teria com suas coisas de menina (lógico que eu receberia muita ajuda), enquanto arrumaríamos suas bonecas e outros brinquedos para a lição de desapego. Você iria (ou ficaria) enquanto eu ficaria (ou iria). Aos poucos o riso daria lugar ao choro convulso, inevitável, não fosse a súplica dela que insistiria que você ficasse e, se necessário, ela iria em seu lugar. O que seria o curso natural dessa evolução ensandecida de uma vida condenada? 

:Num pasto, na esperança de ser abduzida, Ana a encontra: “Não virão hoje... o que faremos?” 
Ela se cala... Fez-se o silêncio.





Boa Noite! Eu sou o Narrador.

Nenhum comentário:

Postar um comentário