domingo, 12 de agosto de 2012

Conto do Dia dos Pais

Leo e Mônica começaram a namorar ainda no segundo grau e conseguiram levar sua relação até hoje, quando estão no final da faculdade (não fazem o mesmo curso, mas algumas matérias são comuns e eles tem aulas juntos). 

Nesse dia, a professora de “relações humanas”, que já discutira relação entre mãe e filhos, irmãos, avós e todos os membros da família, resolveu discutir um texto, encontrado na Internet, que falava sobre o “pai participativo”, aproveitando a proximidade do Dia dos Pais. Era um texto do tipo “morde e assopra”, onde as ideias ficaram diluídas e as opiniões da classe ficaram muito divididas. 

Também, pudera: a começar pelo casal mesmo, onde Leo morava com os pais, sem maiores problemas, e Mônica morava só com a mãe e a irmã, pois os pais eram separados. Sua relação com o pai, depois da separação, foi complicada, eles brigaram sem maiores motivos, sua mãe o acusou de inúmeras inverdades e ela assim cresceu, como sua irmã, ambas “órfãs de pai vivo” (e ele "órfão" de suas filhas, o que lamenta muito com certeza).

- Mas como assim? Que absurdo! Leia isso, Mônica! Quebra galho? Vai se fuder!
"... é importante que o casal tenha em mente a diferença entre "dar uma ajuda" e "dividir". Se o pai troca uma ou outra fralda durante a noite ou leva as crianças para a escola quando a mãe não pode, ele quebra um galho, dá uma mão.” 

- É isso mesmo! É só fingimento para parecer que é legal. E o pior é que as pessoas acham isso o máximo, mas é só porque não tem outro jeito. 

A discussão dos dois ficou acalorada e quase que a relação terminou ali mesmo, por conta de um texto. Ainda bem que ele era paciente e soube relevar. Lembrou das coisas que ela contara sobre o pai e entendeu que ela não levava nada em consideração. Parece que esquecera de tudo de bom que seu pai fizera e até do dia que ela mentiu sobre ter feito um trabalho e ele foi ao colégio ficar do lado dela, na frente da professora e da diretora. 

Outros alunos emitiram suas opiniões. Boa parte achava que o pai somente tem que "estar lá", para qualquer necessidade, algo do tipo “plano B”, mas o “osso” do dia a dia era da mãe mesmo. 

Indiscutível a função “motorista”: para as festinhas, o pai era a solução (“Imagina! Chegar com a mãe, aos quinze anos, na porta de uma festa era mico na certa” - comentou um garoto). 

No meio da discussão, um deles perguntou por que seu pai sentou do lado do “Réu” na hora da separação; e outro perguntou por que a guarda invariavelmente fica com a mãe. Essas perguntas ficaram sem resposta e o silêncio dominou o ambiente quando veio a piadinha inconveniente, daquele aluno babaca, que soltou o tal do “e se não pagar a pensão dá cadeia certa”. 

A professora, sentindo que perdera completamente o controle da situação, já que a discussão descambara para terrenos pantanosos, torcia para que tocasse o sinal de fim da aula, o que aconteceu a seguir (foram quarenta minutos intermináveis!). 

Lá fora, abraçados, Mônica seguia em silêncio. Uma lágrima, misto de raiva com desilusão, ameaçou cair dos seus olhos (muitas lembranças passaram na sua mente); mas ela contornou a situação quando perguntou para Leo: 

- E você? Vai ser participativo ou só vai querer jogar bola e tomar cerveja, enquanto eu esquento no fogão e esfrio no tanque (ela riu, disfarçando)? 
- Vou ser igual ao meu pai. Ele é legal! 
- Então veremos isso daqui a oito meses! 
- !!!!!!!!!!!!!!!!! 


Um bom dia especial para meu pai! Eu sou o Narrador.

N.N.: Essa história tem uma continuação. Clique aqui para conferir! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário